terça-feira, 7 de agosto de 2012

Ciririca de ataque - 05/08/2012


Detalhe da encosta norte do Ciririca e da Baía de Antonina

Durante a semana, conversando com o pessoal que está junto na ideia de fazer a travessia Ciririca-Graciosa, surgiu a ideia de uma ida ao Agudo da Cotia, não só para conhecer a montanha mais isolada do Ibitiraquire mas principalmente para dar uma conferida na Colina Verde e na descida até o rio Forquilha. O Thiago Ferreira topou participar da investida, mas na sexta-feira decidimos ir apenas ao Ciririca, pois ele teria compromisso no domingo à tarde e eu tinha o aniversário do meu amigo Marcão para ir no sábado à noite. Então o que seria uma incursão de reconhecimento virou um passeio na montanha. No "K2 paranaense" como dizem por aí.

Partimos da Fazenda Bolinha às 6h47. Exatamente uma hora mais tarde estávamos na bifurcação da trilha "de cima", que passa pelo Tucum e arredores, com a trilha "de baixo", que vai acompanhando os vales. Fomos pela trilha de baixo, que creio ser mais rápida (pela de cima só conheço até o Tucum). Usei um tracklog esquisitão que encontrei e que tem trilhas trilhas em várias cadeias de montanhas da Serra do Mar do Paraná, inclusive a Travessia Ciririca - Graciosa (!), mas essa tem vários indícios de ter sido feita à mão no Google Earth. Tentei contatar o autor uma semanas atrás mas não obtive resposta.

Às 10h04 chegamos à Cachoeira do Professor. Ficamos com dúvida se era mesmo a tal cachoeira, mas depois, vendo as fotos, alguns colegas confirmaram.


Eu e a Cachoeira do Professor

Numa subida ao Ciririca, o que menos se faz é subir o Ciririca. Cerca de 80% da trilha é nos vales que separam a montanha da civilização, uma trilha por dentro da mata atlântica, sem campos de altitude, e que em raríssimos momentos oferece janelas com alguma vista para as montanhas em volta. Um pouco antes do Última Chance, provavelmente no topo da crista antes de da descida deste pequeno vale, há uma pedra que serve de mirante. Subindo nela, a primeira coisa que avisteamos foi o Anhangava no horizonte. Legal foi perceber, ao olhar para o leste, que os campos de altitude do Ciririca estavam logo à frente.

Anhangava visto da "pedra mirante"

A primeira vista para o Ciririca, na "pedra mirante"

Às 11h20 finalmente chegamos ao Última Chance, onde as trilhas de cima e de baixo juntam-se novamente. Lá encontramos um adesivo deixado pela dupla de montanhistas que há cerca de um mês do realizou a travessia Alfa-Crucis, uma travessia 102 km através das serras do Ibitiraquire, da Farinha Seca e do Marumbi. Acredito que as três correntes presentes no "escudo" representem estas três cadeias de montanhas. Recomendo a leitura do artigo, que relata um feito histórico do montanhismo paranaense. Foi bacana encontrar esse registro num momento em que estamos planejando e estudando a travessia Ciririca-Graciosa, que é a parte da Alfa-Crucis que liga o Ibitiraquire à Farinha Seca.

Registro da Alfa-Crucis no Última Chance

Nessa altura nosso ritmo já estava bastante lento, pois o Thiago há algum tempo vinha sentindo uma dor forte no joelho, que já estava levemente sensível depois de uma corrida durante a semana. Além disso, o forro de um dos pés da sua bota rasgou e estava castigando seu calcanhar, mas isso foi criativamente resolvido com uma espécie de curativo feito com cascas de banana.

Depois do Última Chance é que começa mesmo a subida do Ciririca. Um detalhe importante: não sabíamos que aquilo era o famoso Última Chance. Inclusive nos perguntamos o que diabos o pessoal da Alfa-Crucis veio fazer na trilha de baixo, que apenas liga o Ciririca à BR-116. Como não sabíamos que aquela era a última chance de pegar água antes da subida (sim, é daí o nome), seguimos com meia garrafinha d'água cada um. Cercade 15 minutos depois, durante a subida, foi que nos demos conta, e o tracklog confirmou: passamos o Última Chance. Como queríamos almoçar dignamente à sombra das placas, voltei correndo buscar água, o que nos atrasou em cerca de 20 minutos.

Durante a subida, passa-se rapidamente por um ou dois pequenos trechos de floresta, mas predominam os campos de altitude. Olhar para o tamanho do vale que nos separa da BR-116 lembra que estamos fazendo um ataque e que é bom não perder tempo.

Os vales que atravessamos (e o Thiago no canto inferior direito)

Nas "rampas do Ciririca" pudemos notar que a falta de grampos na rocha fez com que alguns caminhos paralelos fossem criados por quem tem medo de escorregar e se machucar. Um problema consequente disso é o aumento da erosão na encosta da montanha. Se há preocupação com erosão, é interessante que grampos sejam colocados nesse trecho.

Às 12h57 chegávamos ao cume, totalizando 6h10 de trilha. Do cume, finalmente tivemos a primeira vista para as famosas placas do Ciririca.

As placas vistas do cume (e entre elas, lá atrás, a Torre da Prata)

Pico Paraná visto do Cume

Almoçamos embaixo da segunda placa com vista para o cume do Agudo da Cotia e para a Baía de Antonina. A baía abre-se em seu desenho sinuoso de frente para o morro proporcionando uma vista sensacional, que infelizmente foi impossível de capturar com a minha câmera, pois o ar ficou muito esbranquiçado nas imagens. A Baía de Antonina é o ponto em que o oceano Atlântico mais adentra o continente americano.

O cume do Agudo da Cotia

A Baía de Antonina

Depois de comer, tentamos sem sucesso encontrar a trilha para o Agudo da Cotia, se é que existe uma trilha. Todas as picadas que encontramos terminavam em um monte de papel higiênico no meio do mato. Falando em Agudo da Cotia, ele e os seus entornos oferecem também uma bela vista a partir do Ciririca.

Os Agudos e a Colina Verde

Photobombing: à direita os morros Tangará e Coxotós

A Colina Verde, o rio Forquilha e a garganta entre o Tangará e o Coxotós devem compor a primeira metade do último da travessia. Mas aquele não era o dia. Começamos a voltar às 14h08. O joelho do Thiago castigava-o cada vez mais, o que diminuiu ainda mais o nosso ritmo, de forma que noiteceu logo depois que passamos das cordas. E a caminhada noturna é muito mais lenta. 

Vista para o PP durante a descida

A trilha é cheia de ramificações falsas que às vezes levam a lugares perigosos

A noite chegando e nós bem longe do fim

O céu estava bem limpo e em alguns momentos valia a pena desligar as lanternas, acostumar os olhos com a escuridão e então olhar para o zênite para ver estrelas que nunca são vistas de Curitiba. Isso me lembrou que qualquer hora tenho que acampar no PP ou Caratuva num dia de ar seco para observar o céu.

Aos trancos e barrancos, estávamos de volta à Fazenda da Bolinha às 20h52, totalizando 6h44 de trilha na volta. A proprietária da fazenda apareceu na sacada (não tinha aparecido de manhã), pagamos os cinco mangos por cabeça e contamos que fizemos um ataque ao Ciririca. Ela se espantou, acho que quase todo mundo vai até lá para acampar. No fim das contas, cheguei tarde demais em casa (23h20) e não pude comparecer ao aniversário do Marcão.

Comentários gerais
A trilha de baixo é de dificuldade elevada, mais confusa e mais difícil que a trilha para o Pico Paraná por exemplo. Exige um certo preparo físico pelo perfil de elevação e paciência pela quantidade de ramificações falsas. Ainda não fui até lá pela trilha de cima, mas creio que seja mais fácil e com certeza é mais bonito, pois a vista a partir do Camapuã e do Tucum é uma das mais bonitas da serra. Mas falando em beleza, a vista para os Agudos e para a Baía de Antonina de cima de Ciririca valem sem dúvida as 14 horas de caminhada.

Não vou disponibilizar o tracklog porque ficou muito feio com as entradas erradas e por isso pode acabar atrapalhando mais do que ajudando. O tracklog que eu usei é bom e bem preciso até o Ciririca. Mas dali pra frente é claramente feito à mão, então não recomendo essa parte. Segue: http://www.mochileiros.com/gps-tracklogs-mapas-brasil-t60819-30.html

Checkpoints:
06h47 - Início da trilha
07h47 - Bifurcação entre as trilhas de cima e de baixo
10h04 - Cachoeira
11h22 - Última chance
12h57 - Cume
14h08 - Início do retorno
20h52 - Fim


2 comentários:

  1. Bah,
    parabéns ae pelo ataque. Agora é só a gente ir pra travessia.
    Aquela cachoeira é sim a do professor.

    Joel K.

    ResponderExcluir
  2. Bicho, fizemos isso nesse sábado. A vista lá de cima compensa o sobe e desce!

    Abraços

    Luiz

    ResponderExcluir